segunda-feira, 18 de junho de 2012

Encontro

O que será que Ruth tanto olha? Ela é cega, afinal. Não vê nada. Mas seus olhos parecem fixos num ponto específico. Uma vez ouvi uma doutora explicar em sua tese o ponto vélico. Ruth talvez veja o ponto vélico que eu nunca vi. Bem que gostaria. Só há a fumaça do ônibus a frente, o espirro da moça gripada, as gotas de chuva na janela. 

Ruth não vê essas coisas. Ruth não anda de ônibus porque tem medo. Medo da fumaça, da gripe, da chuva. Já eu tenho medo do ponto. O vélico, de Ruth, que não enxergo; o ponto em que desço, o do ônibus, que também não enxergo. Mas estou próximo, e em breve deixarei de ser cego: verei aquele que nunca vi.

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