domingo, 28 de agosto de 2011

Monstro



monstro de sangue e fel
de osso que reveste a carne, não o oposto
monstro que teme gente
e se protege na pena e papel
                          [na pena de si mesmo e no papel que representa]
e sente frio por ter o coração exposto
e porque os bons riem de ti
                          [porque são bons e isso basta]

monstro que chora de madrugada
mas se esgoela ao risos de manhã
enquanto te olham, inquietos
e se perguntam: quem é ele?
é o bicho que pari, ela diz
mas não é meu.
e tu se escondes
onde quer que vás
porque és profundo demais
ou vazio.

oco, monstro, de sentimentos fortes e verdadeiros
e se choras é pela dor imediata que sentes,
então aproveita e escreve!
porque é tão raro, não é?
mas o teu sofrer não importa
nem pra ti mesmo.
e se não sentes, logo como choras?
pois não darás de beber ao teu rosto com lágrimas falsas
nem darás de comer ao teu corpo com poesias vãs.
acabes logo com isso, monstro
e voltes para debaixo da cama deste pobre garoto
ao qual tu gozas possuir nas madrugadas.
vai, permita-o ser bom ao menos uma noite
ao menos esta noite, monstro
deixa-me.