sábado, 17 de setembro de 2011

Fractal
















Coração fragmentado, fractal
Plantei os teus pedaços
Como sementes de cristal.

Levada longe pelo vento
Só uma floresceu
Na terra seca e no breu
De uma rua qualquer.

Só espero que te colham
E te provem o aroma
Sem saber que fora outrora
Parte da chama
De um amor que já murchou,
De um coração que se quebrou.

Desenho de Vivi Cabral. 

domingo, 28 de agosto de 2011

Monstro



monstro de sangue e fel
de osso que reveste a carne, não o oposto
monstro que teme gente
e se protege na pena e papel
                          [na pena de si mesmo e no papel que representa]
e sente frio por ter o coração exposto
e porque os bons riem de ti
                          [porque são bons e isso basta]

monstro que chora de madrugada
mas se esgoela ao risos de manhã
enquanto te olham, inquietos
e se perguntam: quem é ele?
é o bicho que pari, ela diz
mas não é meu.
e tu se escondes
onde quer que vás
porque és profundo demais
ou vazio.

oco, monstro, de sentimentos fortes e verdadeiros
e se choras é pela dor imediata que sentes,
então aproveita e escreve!
porque é tão raro, não é?
mas o teu sofrer não importa
nem pra ti mesmo.
e se não sentes, logo como choras?
pois não darás de beber ao teu rosto com lágrimas falsas
nem darás de comer ao teu corpo com poesias vãs.
acabes logo com isso, monstro
e voltes para debaixo da cama deste pobre garoto
ao qual tu gozas possuir nas madrugadas.
vai, permita-o ser bom ao menos uma noite
ao menos esta noite, monstro
deixa-me.

sábado, 11 de junho de 2011

Homenagem anônima

nobre velha
caida na beira
do buraco da vida
sem mãe sem marido
sem cabelo
tronco forte
madeira ancestral
te vejo de longe
teu brilho constante
de luz

Noz, teu cérebro poético
Luz, tua ousadia de mulher

Diário

No meu diário
Não escrevo todo o dia
E nem mesmo todo dia
Só, assim, nos momentos de agonia
Quando a luta,
Dia a dia,
Trava a língua
E vem a língua
E trava luta
No papel.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Talvez

talvez eu seja um mau poeta, um mau contista, um mau vivente.
talvez eu seja um mau aluno, um mau colega, um mau crente.
talvez eu seja, talvez não.

talvez a mesa esteja posta pro almoço.
talvez o mundo seja o poço do desgosto.
talvez a faca escorregue no pescoço.
talvez sangre.

talvez chova ou faço sol.
talvez o peixe morda o anzol.
talvez já tenham desistido de me ler.
talvez enfim ele desista de viver.

talvez tome coragem, seja forte.
talvez vá adiante e se enforque.
talvez ao ver ninguém se importe.

talvez o mundo acabe amanhã
e as decisões se adiem para sempre.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Polêmica Linguística I

Há quase uma semana que rola polêmica sobre um livro didático do Português recentemente aprovado pelo MEC. O mais interessante é que os responsáveis por essa balbúrdia toda são, em sua maioria, aqueles que se julgam os 'transmissores de informação' no País. Eles mesmos, os jornalistas. 

O problema está em como essa informação é passada para o povo brasileiro e, ainda pior, como alguns formadores de opinião se erguem revoltados contra áreas e estudos que passam longe de suas especialidades. Ver Alexandre Garcia, jornalista inteligentíssimo, comentando sobre o livro didático "Por uma vida melhor" em plena rede nacional me deu medo. Primeiro porque Garcia é muito respeitado e sua opinião é [ou parece ser] muito bem recebida pela população. Segundo, e mais grave, porque ele discorre sobre algo que NÃO pode ser discorrido por um leigo sem que tenha por consequência final um monte de conceitos distorcidos e mal interpretados. O mínimo que uma emissora de TV, ou Rádio, ou um jornal impresso deveria fazer nesses momentos é pôr no ar um especialista [ou ainda melhor, VÁRIOS] que estivessem habilitados a falar sobre o assunto. Alexandre Garcia comentando Linguística é tão válido quanto eu [estudante de Letras] comentando sobre Economia ou alguma ação judicial. 

Mas há quem tenha feito coisa pior, dessa vez na Rádio CBN. O texto a seguir, que eu transcrevo por completo, foi enviado como uma carta à direção da referida rádio pelo Professor Antonio Carlos Xavier, professor titular de Linguística na Universidade Federal de Pernambuco, onde eu estudo. A carta é direta, concisa e muito, muito esclarecedora para quem nunca pegou um livro de Linguística, mas quer entender as motivações de toda essa polêmica. E de quebra, é engraçada em alguns momentos. Quer melhor?


E mais: para quem quiser ler a opinião de Marcos Bagno, linguista conhecido e estudado na maioria das universidades do País, é só ir em seu site pessoal www.marcosbagno.com.br e procurar o artigo "Polêmica ou ignorância?".


Segue agora a carta do Professor Xavier:

domingo, 17 de abril de 2011

Pecador

aos teus pés confessei-me
os meus pecados da mente.

ao teu ouvido sussurrei-me
os meus pecados da alma.

aos teus lábios consagrei-me
aos meus pecados da carne.

Mas havia apenas eu, e nenhum tu.